domingo, 1 de fevereiro de 2009

Dia 8 - Prova do dia cancelada

Hoje tudo pronto para voar.
Após a revitalização do dia anterior a equipa está forte e confiante.
Reunião de Team Leaders às 8:15, como habitual e tudo pronto para lançar a 7ª manga do Campeonato. Contudo, a meio da reunião, sentiu-se alguma agitação e o Team Leader da Dinamarca propõe que não se voe hoje em memória de Stefan Schmoker, já que o dia de ontem tinha sido um dia oficial de descanso e não um dia de reflexão oficial. Outras propostas surgiram, a organização também fez a sua e, acabaram por decidir colocar cada uma delas a votação.

Estas situações são algo difíceis para todos e, desta forma a organização acaba por lançar aos Team Leaders a decisão que deveria ser sua. Acabada a votação, a decisão foi a anulação do dia de competição e que, em sua substituição, se faria um voo desde a descolagem de El Peñon até à aterragem de Valle de Bravo. Os pilotos transportariam consigo algumas flores que largariam no ar sobre a aterragem e/ou localidade.

Sabemos que em situações delicadas, as pessoas têm comportamentos distintos e que, cada um acaba por trabalhar o assunto à sua maneira, tendo por isso, no final, actuações completamente distintas.

Na Equipa de Portugal o problema foi tratado no 1º minuto de oportunidade, agarrado, trabalhado e resolvido em Equipa. Não se julgue que foi fácil para alguém, mas há coisas que fazem parte do nosso trabalho.
Essa forma permitiu, sem dúvida, um enorme fortalecimento e uma coesão que nos colocou prontos para voar 24horas depois do impacto.

Não quer dizer que tenhamos passado a ser “duros” de um momento para o outro, quer dizer que sabemos perfeitamente o que estamos aqui a fazer. Temos consciência de que escolhemos viver intensamente e que existe risco naquilo que fazemos.
Temos a certeza de que esta consciência nos torna mais aptos a resolver situações difíceis de voo e a evitar muitas das consequências nefastas de alguma opções.
Estamos certos de que só a consciência plena dos riscos que assumimos e a certeza de querermos viver desta forma, nos faz saber o que fazemos a cada momento e que tudo o resto já não depende de nós. Essa forma de estar traz-nos a tranquilidade de aceitar os momentos e os caminhos que cada um de nós tem de percorrer.

A confusão em que os sentimentos por vezes nos obscurecem acabam sempre por nos levar a tomar decisões confusas e nem sempre as melhores para nós ou para os outros. Penso que compete aos Team Leaders assumir a gestão nestas situações de forma a que o impacto seja minimizado aos pilotos. Assim, considero que a competição deveria ter seguido no dia de hoje conforme planeado, ainda para mais depois do dia de ontem não ter havido prova.

Considero que as equipas que fizeram o trabalho profundo que nós fizemos estavam igualmente prontas e que, aqueles que se afogaram em coisas supérfluas, aditivos ou depressão não. Fizemos o nosso luto e a vida avança para quem cá continua.

Dois dias após o acidente, voltar a abrir uma ferida que está em cicatrização acaba por ser demasiado violento para todos. Daí que, a descolagem tenha voltado a ser invadida por emoção.

Essa situação não é a mais adequada em defesa da “sanidade mental” de todos os intervenientes numa competição de tão alto nível. Deverá ser da responsabilidade das equipas técnicas sanar qualquer tipo de impacto negativo no objectivo da protecção de cada um dos seus pilotos e na sua habilitação para fazerem aquilo que de melhor sabem: voar!

Sei que a organização comungava também desta posição, mas o resultado do dia acabou por não ser esse. É lamentável obrigarem-se os pilotos a esta situação e a voltar a este assunto tão rapidamente. Apesar disso, o nosso trabalho voltou a ser feito e a nossa equipa está em forma para começar amanhã com toda a força que se impõe a uma equipa de competição de alto nível.

Amanhã, com o apoio de todos vós, lá estaremos a chegar ao Goal numa boa posição.

Paulo Branco

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